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Devido à pandemia da COVID-19, as instituições de ensino brasileiras suspenderam as atividades presenciais
a partir de março de 2020. As redes de ensino, cada uma ao seu tempo e a sua maneira, passaram a adotar o
chamado “ensino remoto”, substituindo as aulas presenciais, nas dependências escolares ou acadêmicas, por
atividades que fazem uso, por exemplo, de tecnologias digitais de informação e comunicação. Como essa
modalidade de ensino se efetivou no Brasil, país considerado o sétimo mais desigual do mundo? Essa
indagação orientou a pesquisa que deu origem a este trabalho e que buscou compreender, justamente, a
efetivação do ensino remoto e a sua relação com as desigualdades sociais. Para tanto, voltou-se para um
pequeno município do litoral norte do Rio Grande do Sul, tendo como referência a experiência de uma escola
pública municipal. Ao longo de seis meses, três turmas de séries finais do ensino fundamental de Palmares
do Sul foram acompanhadas, verificando a frequência e a participação discente nas aulas remotas, através de
dois componentes curriculares (Ciências e Língua Portuguesa). Os registros do trabalho docente, compostos
por diários de classe e planilhas de controle das entregas das atividades remotas, foram as principais fontes
de pesquisa. A eles foram somados dados de fontes oficiais (como o IBGE e o Inep) que permitiram
caracterizar o referido município. Esses dados já sinalizavam a falta de acesso à internet nos domicílios
(apenas 27,7% tinham acesso à internet), baixa escolaridade da população (56,3% não tinha nenhum grau de
instrução ou apenas o ensino fundamental incompleto) e altos índices de infrequência escolar no município
(cerca de 70% não frequentavam à escola naquele período). A pesquisa diagnosticou que, em se tratando das
aulas remotas, foram apontados índices significativos de abandono escolar e média/baixa participação dos
estudantes, índices acentuados com a adoção do ensino remoto. No componente curricular de Língua
Portuguesa, 21,6% dos estudantes abandonaram as aulas remotas, enquanto em Ciências, chegou a 32% de
abandono. Ao se fazer uma comparação do modelo de ensino remoto com o presencial, os índices de
abandono escolar no modelo presencial, não ultrapassavam 5%, em ambos componentes curriculares. Em
relação à média de realização das atividades remotas, o percentual de estudantes que realizavam as tarefas
escolares, oscilou entre 8% e 31%, de acordo com a turma e a disciplina ministrada. Também, constatou-se
falta de acesso, por parte dos estudantes, aos conteúdos disponibilizados em plataformas online e redes sociais
da escola. Os resultados deste estudo, portanto, vieram a ratificar a divisão social que estrutura a sociedade
brasileira, mostrando que o ensino remoto não se tornou acessível a todos os estudantes. |
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